quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Projetando e desenvolvendo a aprendizagem ou Progressão

Etapas progressivas de uma pesquisa: para muito além dos arrastões de arquivologia, uma refinaria dos saberes, dos “preto-no-branco” e dos pareceres qualificados!

Faltando duas semanas para o encaminhamento das progressões, uma guia de rumos da aprendizagem disciplinar em três tempos (ou partes) se faz importante, partindo sempre da noção dos rios de informação, parágrafos e textos bem compostos, que se levantam com um pouco de instrução e necessidade, formando verdadeiros arquivos, não poderem ser simplesmente encaminhados como fossem “trabalhos” escolares, sob pena de perder-se toda a sua funcionalidade documental, passando longe de qualquer estado da arte que revelaria uma “pesquisa” e mostrando um despropósito ofensivo à própria inteligência. Se a necessidade inclui conjunção de interesses, e estudos “educados” ou destinados à emancipação de seus praticantes, a pesquisa documentará a transformação das formulações iniciais do/a(s) estudante(s), das interpretações especulativas/investigativas, em motes, com posição, de uma textualização cognitiva, em questões geradoras ou no relato das aventuras e desventuras de umas buscas e “construções”. Afinal errar é preciso, e em se tratando dos ganhos da experiência escolar, ainda mais importante lidar com seleções dos tipos de experiência (e testes) possíveis, e até mesmo erros interessantes ou observáveis – em maiores acúmulos devidamente atualizados.

A experiência da escrita registra e comunica, gerando um jogo de confirmação do memorável e exercício expressivo por si só criativos e indispensáveis às mobilidades sociais, mas na Escola ainda há a oportunidade do olhar de um outro, em juízo, de um professor. A relação com o professor também deveria estar longe de um vale-tudo: os desafios e as exigências de um vivente, como de um ofício, são razoáveis, se revelam, ao longo de um tempo que não se esgota (e não deveria mesmo se esgotar) em poucos encontros espaçados no tempo. “Fazer número” só ganha má fama quando o formalismo não corresponde a demandas sociais, quando o número não expressa o sem-número de vontades e expectativas envolvidas na aprendizagem através da conversa e elaboração sobre ela. Os trabalhos são sem dúvida bons modos de fechar as contas com maior periodicidade, mas na Escola também exprimem a esperança e o projeto de uma experiência ainda mais valiosa do que as contas “do momento”, como o livro expressa um projeto de leitura inserida na vida do sujeito. A vida nos trabalha e nós trabalhamos à vida, num processo em que talvez seja preciso saber “se perder” – como tantas vezes precisaríamos não nos perder, e como simuladores de vôo simulam toda sorte de panes.

A atitude questionadora básica é de saber partilhar dúvidas dirigindo questões, não única e exclusivamente ao professor, mas ponderando e refletindo com colegas às suas diversas dúvidas, encontrar interesses, denominadores comuns, e desenvolver fraseologias que se atualizam nos mundos menos excludentes de conhecimentos – em que diversos setores tomam parte, ou estão, ao menos, contemplados. Buscar a experiência de quem já a teria é apenas uma disciplina de bom senso, acalentando a criatividade e um respeito aos sujeitos que se traduz em palavras não só amigas, como justas. Tem-se disseminado alguns desvios e mal-entendidos aos quais precisamos advertir, até por se tratar de conhecimentos muitas vezes tradicionais ou oralizados pelo próprio professorado (implicando, não se deve esquecer, em progressivas depurações, que os alunos identificam com uma maneira de ser, um estilo próprio, de cada professor). As presentes instruções, por exemplo, estão sim calcadas em vários outros artigos, nem todos estando atualmente à mão, ou mesmo devidamente “assinados” (minimamente identificados, como o de Conceição Paludo, 2007/2008, “Projeto de Pesquisa”) , mas aos quais respaldo plenamente (“Como organizar seu trabalho”, material circulante entre instituições, com numeração de páginas que vai de 746 a 759). Negar a busca, os nomes das “fontes” humanas disponíveis ou encontradas, pretendendo ser o/a possuidor/a dos conhecimentos que a experiência (social e) leitora estaria apresentando, não é respeitar nem os próprios limites, quanto mais aos sujeitos da pesquisa ou aos de suas frases.

O oposto de tamanho “desvio” é percorrer o próprio desenvolvimento posicionando-se com os seus múltiplos propósitos estabelecidos(por mais sinuosos que possas ser seus trajetos), balanços e até algumas considerações finais ou conclusões. Quanto mais ele estiver presente no corpo da pesquisa, mais o leitor compreenderá a linguagem do(s) autor(es) estudante(s) ou estudioso/a(s), e poderá ir de encontro às suas palavras (como tanto me pediram, e pedem, muitas turmas) e intenções. Pois os conhecimentos se organizam em relação a múltiplas experiências, e em termos que correspondam aos interesses nelas envolvidos: aos acertos ou às “convenções” de um grupo ou comunidade, especialmente se pretendemos repelir democraticamente às imposições monopolistas, retrógradas ou autoritárias (por exemplo). Desta nossa dimensão dialógica, comunicativa e expressiva das pesquisas escolares, os eventuais olhares de leitor também podem desenvolver outro respeito aos próprios limites da linguagem a ser empregada em nosso mundo da vida – pois como teria dito um filósofo (Wittgenstein), “os limites da linguagem são os limites do meu mundo”.

As partes do trabalho refletindo etapas, imprimindo andamento às práticas, a princípio coletivas:

Na primeira parte, logo acima, deste trio de reflexões, tocamos as questões de certa complexidade, desembocando numa citação de filósofo, formulação abrangente que pode ser útil para pensarmos inclusive questões éticas – dado o caráter consequente que se pretende imprimir a todo o discurso “dê limites” em Educação. Elas possuem primazia e maiores desdobramentos, pois numa sociedade em que “as explicações são para porteiros”, um vocabulário correto e direto seria para cursos, introduções e estudos de Filosofia – daqueles empreendidos por quem tem coragem de enfrentar escalas e tabelas de “pensadores”, suas categorias e definições, ferramentas e até “concepções”, ou melhor, formulações e compreensões (eventualmente reformulações, compatibilidades, notícias e entendimentos, inclusive). Porteiro, caçador de notas ou mesmo algum tipo de idealista também poderia desconfiar da intimidade com os “mestres” contraída pelo viés de seus comentaristas “críticos”: como manter respeito por “um Hegel”, ou viver em seu temor? Há de se dar ao respeito: de se eleger “a dedo” suas “leiturinhas” contemplando definições e exercendo a consciência nos juízos (fraseados), nas fichas da Idéia, nos pareceres passando-os em revista(s) e repercutindo o seu conceito moral, seu princípio de valor, etc. Já que o caráter de trabalho se realiza progressivamente e por camadas viabilizando raciocínios ou a inserção de uma idéia (mesmo se ela for tão difícil, por exemplo, quanto regular a dieta de uma criancinha), se dar bem com os próprios registros de consultas às fontes literárias tem o seu valor estratético, metodológico, nos investimentos das famílias.

Dando prosseguimento à cena das parcerias entre pares e do desenvolvimento da localidade de trabalho, dos processos entre os colegas, de vida e aprendizagem (programada: pesquisa), dos seus projetos visando implementar qualificações a afastarem ao máximo as injustiças (violências e preconceitos) desta civilização, abrimos a seguir o que seja a articulação de uma pesquisa enquanto expressão decidida, discutida, de uma disposição e de uma contextualização expressiva correspondente. Que tal disposição, sendo tão motivador pré-requisito, tão importante, até mesmo enquanto “objetivo”, nas humanidades em escolarização, dá aqui forma ao trabalho: uma forma de projeto: se o trabalho enquanto produto se finaliza no terminar sua “introdução” – após toda a “conclusão” e “revisão bibliográfica” e etc. –, um “Relatório de Projeto de Pesquisa” desembocará num cronograma, sim, mas não sem antes refletir e justificar rotinas e ações do campo em que se pretenda desenvolver... o “ponto de vista” ou a expressão que for envolvida na atividade – e na argumentação correspondente que passa a ser o nosso “número” e real produto de trabalhos escolares.

Portanto

  • Um trabalho escolar, coletivo ou individual (conforme as combinações),

se encaminha a partir da

  • Escolha de um Tema – tarefa complexa a ser definida pelos pesquisadores, e que frequentemente se refletirá no
  • Título do projeto.

Porém, existem etapas nas quais este tema se apresenta, após a identificação, do título, do

  • Nome dos participantes (quem?)

e de

  • Instituição, local e data:

o Tema é a formulação do que se pretende elaborar como registro dos conhecimentos desenvolvidos numa pesquisa, apurados ou produzidos, e também contextualizados em termos de

  • Área de conhecimento;

e oportunizados à fruição de seus leitores/avaliadores através do

  • Sumário (ou Índice) que articula visual e textualmente os componentes do trabalho.

Para quê? Por quê? Ora, ao final do trabalho de uma pesquisa, com todos os fragmentos bem articulados, aparecerá expressivamente a obra pretendida, como numa pintura ou “composição”. Sem situar, textualmente, tais “fragmentos”, arriscaríamo-nos a não fazer valer os plenos poderes das citações, nem sequer nos apropriando efetivamente da sabedoria que pudessem portar.

Na seqüência do sumário recomenda-se uma

  • Justificativa (para quê? Por quê?), que indique os propósitos expressivos, ou os que se mantém, da – por assim dizer – força tarefa em questão, em relação ao que já se apresentara neste “projeto”. Aqui é o lugar para se elucidar o que se sabe sobre o tema, a razão da sua escolha, as propostas para o desenvolvimento: o coração do trabalho. Antes de produzir o texto dissertativo que comporá a justificativa, verificam-se as diferentes posições verbalizadas, conceituais, teóricas, sobre o tema, por meio da pesquisa bibliográfica, em apoio àquilo que se quer dizer. Tal “garimpagem” da bibliografia costuma se constituir inicialmente da consulta, em internet (e/ou livrarias) e bibliotecas, do que há sobre o tema, formando um acervo de “bibliografia consultada”, olhada – mas não necessariamente estudada de fato. Alguma parcela deste acervo, porém, se destacará enquanto repertório efetivamente mobilizado de idéias, e esta “bibliografia de referência”, de livros, revistas, capítulos, artigos realmente lidos (e que podem até, eventualmete, ser anexados ao projeto), é aquela que será citada no interior do texto da justificativa.

  • Objetivos (para quê? Por que?), novamente, contemplam a especificidade da orientação e consequentemente dos rumos da pesquisa, listando basicamente, a partir de seus próprios propósitos, os verbos, as realizações que o trabalho do pesquisador/a estará “conjugando”.

Dando forma ao próprio trabalho em pesquisa, na montagem de agenda e no que é documento para valer:

A técnica sendo um meio de fazer algo, não desviará o foco de sua experiência e preocupações. Muito pelo contrário: qualificará as inovações de sua perspectiva na abordagem escolhida – ao menos àquelas ressaltadas na Justificativa. Explicitando as leituras realizadas, indicando as diferentes posições teóricas verificadas e relacionando as teorias que confirmam suas hipóteses, o texto exporá como elas serão utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa. À medida em que se conclui uma etapa de pesquisa, esta apresentação de linhas gerais e de como se pretende realizar a pesquisa, com quais valores e metas desejadas e a se testarem, importantes para os desenvolvimentos pessoais e para uma área de estudo, é revisada e atualizada, aprimorando-se enquanto trabalho, produto apresentável e publicável, ou “caminho”: processo escolado, metódico, de investigação. A um tal caminho, depois de percorrido, chamamos de

  • Metodologia (como?); os passos realizados para fazer o trabalho, enquanto procedimentos investigativos que se projetam com as experiências (reportadas na Justificativa).
  • Cronograma (quando?); as pretenções devem respeitar os outros, os eventos programados, representados por prazos. Esta pode ser a simulação mais difícil de um treinamento escolar, por exemplo, mas decerto que não é a menos importante, então convém que parcelas expressivas do projeto se encaixem na agenda viva, que respira, de cada um. Se importa “correr atrás da máquina”, saber para onde se está indo e poder sair na frente não importa menos, e equacionar na prática é solucionar no tempo: quanto mais se antecipam os eventos, mais largos tendem a ser os horizontes de seus próprios projetos.
  • Referências bibliográficas; as idéias não estão exatamente “soltas”, elas são articuladas e estruturantes, ligam pontos destacados, contemplando contextos e estabelecendo consideráveis, notáveis relações produtivas.
  • Bibliografia consultada; uma recapitulação do que efetivamente se mobiliza do acervo averiguado, levantado. A produção do conhecimeto, que é societária, pode se parecer a um mutirão, envolvendo muitas partes, e é importante que isto não seja menos nítido do que os créditos de um filme...

Lembrando:

Quanta documentação! Assim ficam graúdos os trabalhos, sim, mas “gradualmente”, e à medida em que se ficham (e não apenas se “fecham”) as leituras, se extraem delas o que interessa, disponibilizando dados para posterior utilização. Para encerrar com mais um serviço de advertência e utilidade pública: “Se o tempo disponível propicia a leitura de apenas um livro, é importante que esse livro seja representativo da teoria desenvolvida” por um pesquisador, bem, conceituado, renomado (como apontamos anteriormente, o caminho da leitura também pode, e deve, remontar, no mínimo, à importância de tais autores de referência da Cultura em questão).

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